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MASTECTOMIA BILATERAL E MORTALIDADE POR CÂNCER DE MAMA: UMA ANÁLISE DOS EFEITOS E LIMITAÇÕES

A escolha da mastectomia bilateral como tratamento para mulheres com câncer de mama unilateral tem se tornado cada vez mais comum, muitas vezes motivada pela expectativa de prevenir um segundo câncer e, assim, melhorar a sobrevida. No entanto, os efeitos reais dessa intervenção em termos de mortalidade ainda são controversos. O estudo recente, conduzido por Giannakeas et al., publicado na JAMA Oncology em 2024, analisou dados de 661.270 mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 2000 e 2019, comparando três abordagens cirúrgicas: lumpectomia, mastectomia unilateral e mastectomia bilateral.

Os resultados indicam que, embora a mastectomia bilateral reduza significativamente o risco de desenvolvimento de um segundo câncer contralateral — com apenas 0,3% dos casos contra 6,9% observados nos grupos que realizaram lumpectomia ou mastectomia unilateral — ela não apresenta um impacto relevante na mortalidade por câncer de mama. A taxa de mortalidade em 20 anos foi similar entre todos os grupos, por volta de 16,7%. Esses achados sugerem que, apesar de reduzir a incidência de um segundo câncer, a mastectomia bilateral não diminui o risco de morte, questionando, portanto, sua efetividade como estratégia de prevenção de mortalidade.

Outro ponto crucial levantado pelo estudo é o impacto de um diagnóstico de câncer contralateral. Mulheres que desenvolveram um segundo câncer de mama apresentaram um risco quatro vezes maior de mortalidade, independentemente do tipo de cirurgia inicial realizada. Essa informação evidencia que a presença de um câncer contralateral é um marcador significativo de pior prognóstico, mas que sua prevenção cirúrgica não parece alterar substancialmente a sobrevivência em longo prazo.

Além disso, o estudo destaca que a mortalidade após um segundo câncer de mama foi maior entre mulheres diagnosticadas com câncer lobular e aquelas mais jovens, especialmente em casos de câncer receptor hormonal negativo (ER-negativo). Esse detalhe reforça a necessidade de estratégias individualizadas e específicas para grupos de maior risco.

Uma questão levantada pela pesquisa é a eficácia limitada da detecção precoce. Embora o câncer contralateral seja frequentemente identificado cedo, isso não resulta, necessariamente, em uma melhora significativa na sobrevivência das pacientes. Isso levanta dúvidas sobre a utilidade de uma triagem intensificada após o diagnóstico inicial de câncer de mama, sugerindo que intervenções mais focadas ou estratégias alternativas possam ser necessárias para reduzir a mortalidade.

As conclusões reforçam que, apesar do aumento no número de mulheres que escolhem a mastectomia bilateral como medida preventiva, não há benefício de sobrevivência comprovado. Isso sublinha a importância de um aconselhamento médico preciso, baseado em evidências, para que as pacientes compreendam os riscos e benefícios reais dessa intervenção. A orientação inadequada pode levar a decisões baseadas em percepções errôneas de risco e benefício, o que poderia ser evitado com informação médica mais clara e individualizada.

O estudo também reconhece limitações importantes, como a falta de informações sobre o histórico familiar das pacientes, o uso de terapia endócrina e a presença de mutações genéticas (BRCA1/BRCA2). Esses são fatores essenciais para avaliar o risco de câncer contralateral e a efetividade das intervenções cirúrgicas preventivas, e sua ausência nos dados pode impactar a interpretação dos resultados.

Em resumo, a mastectomia bilateral é eficaz para prevenir um segundo câncer, mas não se traduz em uma redução significativa na mortalidade em mulheres com câncer unilateral. Esse achado desafia a visão comum de que o câncer contralateral, quando diagnosticado precocemente, pode ser efetivamente tratado para melhorar a sobrevivência. Assim, é fundamental que médicos e pacientes estejam bem informados sobre as reais implicações e limitações desse procedimento, permitindo que decisões sejam tomadas com base em dados concretos e perspectivas realistas.

DR IDELFONSO CARVALHO / MASTOLOGISTA / CRM 9198 / RQE 5403

Dr. Idelfonso Carvalho é um renomado profissional cuja carreira multidisciplinar reflete um profundo compromisso com a saúde e o bem-estar humano. Com uma impressionante formação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (2002) e em Direito pela Universidade Regional do Cariri (2018), Dr. Carvalho construiu um percurso profissional notável, destacando-se em diversas especialidades médicas e contribuindo significativamente para a área da saúde em várias capacidades.

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